Histórico do Teatro Brasileiro
O teatro brasileiro praticamente nasceu com o Padre José de Anchieta, em meados do século XVI. No século XVII, pouco ou nada de novo surgiu nesse terreno. No século seguinte, Antônio José da Silva produziu algumas peças teatrais cheias de humor e psicologia: A vida do grande Dom Quixote de Ia Mancha e do gordo Sancho Pança, Os encontros de Medéia, Manjerona e outras.
Histórico do teatro Brasileiro
Início Século XIX
Foi com o Romantismo que o teatro brasileiro propriamente dito desenvolveu-se e solidificou-se, tanto na dramaturgia como na comédia. Foram autores importantes: Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias, J. Manuel de Macedo, José de Alencar, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Machado de Assis e, na comédia, Martins Pena, França Júnior e Artur Azevedo.José Joaquim de Campos Leão, o Corpo-Santo, ainda que tenha produzido comédias sobre a sociedade gaúcha no século XIX.
Século XX
A grande novidade do teatro nacional nas primeiras décadas foi a peça Malazart (1911), de Graça Aranha. Nos anos 30 e 40, a ditadura não via com bons olhos a livre expressão de idéias no palco. Deus lhe pague (1932), de Joracy Camargo, e Bailado dodeus morto (1933), de Flávio de Carvalho, são da época Oswald de Andrade, mais revolucionário e radical, mudou a concepção de teatro, com base no Dadaísmo e no Surrealismo. Escreveu peças importante: O rei da vela ( 1933), O homem e o cavalo (1937), etc., que seriam encerradas na década de 60, com grande êxito, pelos gruposTeatro Oficina e Teatro de Arena.
Teatro de Arena
Em 1943, Zbgniev Ziembinski, diretor e ator vindo da Polônia, encenou Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues. Estava fundada a escola de dramaturgia no Brasil, sobretudo com Os comediantes. A peça explorava o subconsciente, a realidade do cotidiano e o íntimo das paixões humanas. As demais obras de Nelson Rodrigues estariam também nessa linha: Álbum de familia, Senhora dos afogados, Valsa nº6, A falecida, Perdoa-me por me traíres, Boca de ouro e muitas outras peças, algumas das quais mais tarde seriam transformadas em filmes.
O nosso teatro contemporâneo teve continuidade com A moratória (1955), de Jorge de Andrade, O auto da compadecida (1957), de Ariano Suassuna, Eles não usam black-tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri. Nascido na Itália, Guarnieri chegou ao Brasil em 1936,com apenas dois anos de idade; é autor de outras peças importantes: Cimba, A semente, O filho do cão, Marta Saré , Castro Alves pede passagem, Arena conta Zumbi e Arena contaTiradentes (em parceria com Augusto Boal), Um grito parado no ar, Ponto de partida
Teatro Oficina
Vários grupos teatrais seguiram os caminhos abertos pelo Teatro de Arena. Foi decisiva a atividade do Grupo Opinião, que teve entre seus fundadores Ferreira Gullar, Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes, João das Neves, Tereza Aragão e Armando Costa.
Mas, em 1964, veio a ditadura. O Ato Institucional nq 5 (AI-5), de dezembro de 1968, restringiu a expressão artística, e o setor mais atingido foi o teatro, com suas características de denúncia contundente. Assim mesmo, Morte e vida severina, de João Cabral de Meio Neto, musicada por Chico Buarque de Holanda, foi premiada num festival de teatro na França, em Nancy. Roda-viva e Cala bar, o elogio da traição, peças escritas e musicadas por Chico Buarque, provocam o exílio do próprio Chico e dos diretores teatrais Augusto Boal e José Celso Martinez Correa.
PRINCIPAIS REPRESENTANTES
Entre os autores pós-modernos do teatro brasileiro destacam-se Nelson Rodrigues, Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes, Ariano Suassuna, Jorge Andrade, Ferreira Gullar,Chico Buarque de Holanda, Augusto Boal, Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes, Plínio Marcos, Millôr Fernandes, Flávio Rangel, Consuelo de Castro, Maria Adelaide Amaral, Leilah Assunção e outro
A seguir um fragmento da peça Eles não usam black-tie, de Guarnieri, cuja temática é politica e revolucionária
Eles não usam black-tie
Tião - Tem uma nota sobre a greve na primeira página!...
Otávio - Se até as oito horas da noite não derem o aumento, greve geral na metalúrgica!
Tião - Ninguém tem peito, pai!
Otávio - Como não tem peito? Tá esquecido do ano passado?
Tião - Eu não tava lá.
Otávio - Mas eu estava! Deram aumento ou não deram?
Tião - Deram parte do aumento, parte. E mesmo assim porque todas as categorias
aderiram! Mas agüentá o tranco sozinho, ninguém.
Otávio - Espera só a assembléia de hoje e vai ver se tem peito ou não! Eu tinha avisado.
Heim! O ano passado entramos em acordo com o patrão e foi o que se viu. Agora,
aprenderam
Tião - E por que entraram em acordo?
Otávio - Porque parte da comissão amoleceu...
Tião - Tá vendo, taí! Se em greve de conjunto metade da turma amoleceu
Otávio - Metade da turma não senhor! Metade da comissão.
Tião - E então?
Otávio - E então, o quê? Eram pelegos! A turma topava mas tinha meia 20 dúzia deles que
eram pelegos. A turma topava, os pelegos deram para trás.
Tião - Não, pai! Pro senhor, quem não pensa como o senhor é pelego
Otávio - Nada disso! Eram pelegos no duro. Taí a prova: tá tudo bem arrumado na fábrica.
tudo chefe e fiscal! O que é isso? Peleguismo, traidores. 25 da classe operária.
[...]
Maria - Medo, medo, medo da vida... Você teve!... Preferiu brigá com todo mundo, preferiu
O desprezo... Porque teve medo!... Você num acredita em nada, só em você. Você é um...
Um convencido!
[...]
Tião - Maria, pelo menos tu sabe que eu arranjei saída. Agora tá feito, num adianta chorá!
[...]
Maria - Medo, medo, medo...
Tião - Medo está bem, Maria, medo!... Eu tive medo sempre! [...] Não queria ficá aqui
Sempre, ta me entendendo? Tá me entendendo? A greve me metia medo. Um medo
diferente! Não medo da greve! Medo de sê operário! Medo de não saí nunca mais daqui!
Fazê greve é sê mais operário ainda!...
Maria - Sozinho não adianta!... Sozinho tu não resolve nada!... Tá tudo errado!
GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie. 7. Ed.
Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1991





